Tuesday, September 30, 2025

O QUE TIVER DE SER


O que tiver que acontecer

vai acontecer.

O amanhã ninguém pode prever. 

Eu nem quero saber.

Só sei que na tua porta vou bater

com um buquê de flores na mão

e saindo, pela boca, o coração.

Vou te pedir amor, 
nem que seja por favor,  
uma vez só que seja.
É que de morrer de amor 
Deus me proteja!

Eis Emily Dickinson uma vez mais

 


1222
Emily Dickinson
The Riddle we can guess
We speedily despise-
Not anything is stale so long
As Yesterday's surprise-
To die for him to use.

            1222

        O Enigma que nós podemos adivinhar

        Nós desprezamos depressa-

        Nada é obsoleto por tanto tempo

        Quanto, de ontem, a surpresa-

        Morrer para ele usar.  

        Ilustração: Conceitos do Mundo.

I


p

P

Uma poesia de Sergi de Diego Mas

 


Sergi de Diego Mas

ALGUIEN NOS HABLA en una dirección que es relativa.

Somos exclusivos sin saberlo, líneas de fuga en el amanecer de una carretera expandida.

La luz nos mira, ambigua, en una geometría de oscuridad y agregados, de imanes y hechizos.

Cada embrujo tiene su distancia.

Cada distancia tiene su silencio.

 

ALGUÉM NOS FALA em uma direção que é relativa.

Somos exclusivos sem saber, linhas de fuga no amanhecer de uma rodovia expandida.

A luz nos olha, ambígua, numa geometria de escuridão e agregados, de ímãs e feitiços.

Todo encanto tem sua distância.

Toda distância tem seu silêncio.

Ilustração: Gazeta SP.

Monday, September 29, 2025

Um poema de Stella N'Djoku

 


3.

Stella N’Djoku 

Ma le mani sentono tutto

il sapore degli astri

hanno ricordi di meteoriti

di scie

luminosissime

e suoni.

 

Sussurrami tu

l’entusiasmo come sorpresa.

3.

Mas as mãos sentem

todo o sabor dos astros

têm recordações de meteoros

de rastros

luminosíssimos

e sons.

 

Sussurra-me tu

o entusiasmo como surpresa.

Ilustração: Portal Olhar Dinâmico.

 

 

Uma poesia de Ángel Manuel Chavarría López

 


DESPERTÉ EM LA OSCURIDAD

Ángel Manuel Chavarría López.

Tendrás que disculparme
por despertarme entre la oscuridad,
pero más perdones tendrás que darme
cuando, frío, te diga
que conocí a quien dolor mitiga,
llamada soledad.

DESPERTEI NA ESCURIDÃO

Terás que me desculpar

por me despertar na escuridão,

porém, mais perdões terás que me dar

quando, frio, te disser

que conheci quem a dor mitiga,

chamada solidão

Ilustração: Catraca Livre.

Sunday, September 28, 2025

Canção dos Homens




Independente da dor, ou do riso,

viver é preciso.

No inferno ou no paraíso. 


Marchar em frente, irmão, 

no ritmo que os dias dão

é a única opção. 

Ilustração: Freepik. 


Uma poesia de Hilda Davis

 


 

       PILATE PONDERS WHERE SHE BELONGS

        Hilda Davis

the man who hit me goes
to make love to his wife after. 
someone tells me all of his teeth 
have fallen out now & I use
mine to laugh & chew
tobacco sticks. I once prayed
he would never smile again, & maybe
the Universe is hilarious, & maybe It
doesn’t care about our laughter at all. I am
floating with nowhere to go. trying
to convince people I am alright. a woman
fit me for a dress. I wanted to show off 
how I rid myself of the violence
all over my body & she makes
clothes folks sway good in.
tape around my waist, she notices
I don’t have a navel & I gotta tell
the truth-sometimes,
people are not born, some of us

 

fall into this world

PILATOS PONDERA SOBRE ONDE ELA PERTENCE

o homem que me bateu vai

fazer amor com a sua esposa depois.

alguém me diz que todos os seus dentes

caíram agora & eu uso

os meus para rir & mascar

bastões de tabaco. Uma vez rezei

para que ele nunca mais sorrisse, & talvez

o Universo seja hilário, & talvez Ele

não se importe nem um pouco com o nosso riso. Estou

flutuando para ir a lugar nenhum. Tentando

convencer as pessoas de que estou muito bem. Uma mulher me ofereceu um vestido. Eu queria exibir

como me livrei da violência

por todo o meu corpo & ela faz

roupas com as quais as pessoas se balançam bem.

Uma fita em volta da minha cintura, ela percebe

que eu não tenho umbigo & eu tenho que contar

a verdade- algumas vezes-,

as pessoas não nascem, alguns de nós

 

caem neste mundo

Ilustração: Superinteressante.

Saturday, September 27, 2025

A Melancolia de Eduardo Carranza

 


ES MELANCOLÍA 

Eduardo Carranza 

Te llamarás silencio en adelante.
Y el sitio que ocupabas en el aire
se llamará melancolía.

Escribiré en el vino rojo un nombre:
el tu nombre que estuvo junto a mi alma
sonriendo entre violetas.

Ahora miro largamente, absorto,
esta mano que anduvo por tu rostro,
que soñó junto a ti.

Esta mano lejana, de otro mundo
que conoció una rosa y otra rosa,
y el tibio, el lento nácar.

Un día iré a buscarme, iré a buscar
mi fantasma sediento entre los pinos
y la palabra amor.

Te llamarás silencio en adelante.
Lo escribo con la mano que aquel día
iba contigo entre los pinos.

É MELANCOLIA

Te chamaras silêncio daqui por diante.

E o lugar que ocupas no ar

se chamara melancolia.

 

Escreverei no vinho tinto um nome:

o teu nome que esteve junto à minha alma

sorrindo entre violetas.

 

Agora olho longamente, absorto,

para esta mão que andava sobre teu rosto,

que sonhou junto de ti.

 

Esta mão distante, de outro mundo

que conheceu rosa e rosa,

e a cálida e lenta madrepérola.

 

Um dia eu me encontrarei, encontrarei

meu fantasma sedento entre os pinheiros

e a palavra amor.

 

Te chamaras silêncio daqui por diante.

Eu o escrevo com a mão que naquele dia

ia contigo entre os pinheiros.

Ilustração: A Gazeta.

Friday, September 26, 2025

Livremente Atados


Nada é simples entre nós. 

Por qualquer coisa elevamos a voz. 

Quando não grito contigo

você faz questão de gritar comigo. 

Brigamos por coisas sérias, 

mas, também por motivos banais

e tudo que fazemos nos separa mais. 

É tanta briga, tanta confusão 

que só há o caminho da separação. 

No entanto, quando pensamos em viver sozinhos, 

vem aquele banzo, a necessidade de carinho

e voltamos para brigar mais em nosso ninho. 

Ilustração: Diários de Solidões Coletivas. 


 

É Galal-Mohamed Samir

 

FINO A CHE SANGUE NON SEPARI

Galal-Mohamed Samir

Tu cercavi la quiete:
disperata ostinazione amorosa
per te stessa.

Tu che quiete non avevi,
io che
quiete non conosco.

ATÉ QUE O SANGUE NÃO SEPARE

Tu que procuravas a paz:

desesperada obstinação amorosa

por si mesmo.

 

Tu que não teve paz,

eu que

que não tive paz contigo.

Ilustração: IBC. 

Thursday, September 25, 2025

Uma poesia de Margarita Carrera

 


DESDE MI PEQUEÑA VIDA

Margarita Carrera

Desde mi pequeña vida
te canto
hermano
y lloro tu sangre 
por las calles derramada 
y lloro tu cuerpo
y tu andar perdido.

Ahora estoy aquí
de nuevo contigo
hermano. 
Tu sangre
es mi sangre
y tu grito se queda
en mis pupilas
en mi cantar mutilado. 

DESDE MINHA VIDA PEQUENA

Da minha pequena vida

te canto,

irmão

e choro teu sangue

pelas ruas derramado

e choro teu corpo

e teu andar perdido.

 

Agora estou aqui

de novo contigo,

irmão.

Teu sangue

é meu sangue

e teu grito fica

em minhas pupilas

em meu cantar mutilado.

Ilustração: Folha-UOL.

Ainda Haikus de Allen Ginsberg

 



Allen Ginsberg 

Looking over my shoulder

my behind was covered

with cherry blossoms.

 

Winter Haiku

I didn't know the names

of the flowers-now

my garden is gone.

 

I slapped the mosquito

and missed.

What made me do that?

 

Reading haiku

I am unhappy,

longing for the Nameless.

 

A frog floating

in the drugstore jar:

summer rain on grey pavements.

(after Shiki)

 

Olhando por cima do ombro

meu traseiro estava coberto

de flores de cerejeira.

 

Haikais de Inverno

Eu não sabia os nomes

das flores - agora

meu jardim se foi.

 

Dei um tapa no mosquito

e errei.

O que me fez fazer isso?

 

Lendo haikais

Estou infeliz,

com saudades do Inominável.

 

Um sapo flutuando

no pote da farmácia:

chuva de verão em calçadas cinzentas.

(depois de Shiki)

 

Ilustração: Pinterest.

Tuesday, September 23, 2025

Um poema em prosa de Charles Baudelaire

 


L’ETRANGER

Charles Baudelaire

- Qui aimes-tu le mieux, homme énigmatique, dis ? ton père, ta mère, ta sœur ou ton frère ?
- Je n’ai ni père, ni mère, ni sœur, ni frère.
-Tes amis ?
-Vous vous servez là d’une parole dont le sens m’est resté jusqu’à ce jour inconnu.
-Ta patrie ?
-J’ignore sous quelle latitude elle est située.
- La beauté ?
-Je l’aimerais volontiers, déesse et immortelle.
- L’or ?
-Je le hais comme vous haïssez Dieu.
-Eh ! qu’aimes-tu donc, extraordinaire étranger ?
- J’aime les nuages… les nuages qui passent… là-bas… là-bas… les merveilleux nuages !

O ESTRANGEIRO

-Quem tu mais amas, homem enigmático, diz? Seu pai, sua mãe, sua irmã ou seu irmão?

-Eu não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.

-Teus amigos?

-Vós vos servis de uma palavra cujo significado me permanece desconhecido até hoje.

-Tua pátria?

-Eu ignoro em que latitude ela se situa.

-A beleza?

-Eu a amaria com prazer, deusa e imortal.

- O ouro?

-Eu o odeio como você odeia Deus.

-Ei! O que tu amas, extraordinário estranho?

-Eu amo as nuvens... as nuvens que passam... ali... ali... as maravilhosas nuvens!

Ilustração: Bing.

Outra poesia de Antonella Anedda

 


Questo è un modo per dimenticarsi

Stilare un elenco.

Antonella Anedda

Rivolgersi alla montagna per esempio

Pregarla come i dannati nell’Apocalisse

Dire che il cielo è nero come un sacco di crine.

Ormai certi che l’anima è mortale

e il corpo solo astuto

e la coscienza un’invenzione

trasmigriamo con volumi di luce.

Seduti nel pomeriggio di ottobre

colpiti dal sole

irreali ma pieni di tepore.

ESTA É UMA MANEIRA DE ESQUECER

FAÇA UMA LISTA

Volte-se para a montanha, por exemplo,

Orando como os condenados no Apocalipse

Diga que o céu é preto como uma crina de cavalo.

Até agora certo de que a alma é mortal

e o corpo só astuto

e a consciência uma invenção

transmigramos com o volume da luz.

Sentados à tarde de outubro

atingidos pelo sol

irreal, mas pleno de temperatura.

Ilustração: Fatos Desconhecidos. 


Monday, September 22, 2025

Yes, Julia Prilutzky

 


TAL VEZ NO SEPAS NUNCA CUÁNDO Y COMO

Julia Prilutzky

Tal vez no sepas nunca cuándo y cómo
quise salvar mi amor, tu amor. El nuestro.
Una vez será tarde.
Yo presiento
esa herida que avanza,
ese cierto dolor de no querernos.
Cómo decirte ahora:
mírame aún, así, trata de verme
como soy, duramente.
Con mi ternura. Claro, y mis tormentas.
Cómo decirte: sálvalo, si quieres
y cuídalo. Se te ha ido de las manos,
se me va de la sangre y no regresa.
Cómo decirte que te quiero menos
y que quiero quererte como entonces.
Y que entiendas
y no te encierres más.
Y me dejes creer en ti, de nuevo.
Cómo decirte nada.
Un día será tarde. Tarde y lejos.

TALVEZ NÃO SAIBAS NUNCA QUANDO E COMO

Talvez não saibas nunca quando e como

Quis salvar o meu amor, o teu. O nosso.

Uma vez será tarde demais.

Eu pressinto

essa ferida que se infiltra,

essa dor inconfundível de não nos querermos.

Como te dizer agora:

olha-me ainda, assim, trata de me ver

como sou, duramente.

Com minha ternura. Claro, e meus tempestades.

Como te dizer: guarda-o, se queres

e cuida dele. Se está escapando das tuas mãos,

se já escapou do meu sangue e não regressa.

Como te dizer que te quero menos

e que te quero amar como antes.

E que entendas

e não te tranques mais.

E me deixes crer em ti, de novo.

Como posso não te dizer nada.

Um dia será tarde. Tarde e distante.

Ilustração: Bereianos.

TEU NOME


Se criar um bar, um dia,

nele colocarei teu nome.

No navio ou no barco,

que nunca comprarei,

teu nome colocaria.

Na fachada da casa

de praia que sonhei

em letras de pura brasa

vejo teu nome, bem sei.

E nos poemas que faço

é a ausência nos espaços

notada por tão oculta

nas coisas que não nomeei-

surge a paixão insensata,

o romance secreto salta

denunciado por falta.

Teu nome não posso ouvir

sem ter enorme emoção,

sem palpitação sentir,

sem doer o coração. 

Se teu nome se pronuncia

meu rosto fica vermelho.

Fujo de todos, do espelho

que meu rubor denuncia.

.


 

Gorea de Edouard Glissant

 


GOREA

Edouard Glissant

Vivía su grito que era todo un árbol: sus raíces se derramaban en torrentes, en llamados.

Fue a anudar en la garganta del tiempo lo crudo de las profundidades y sostuvo con la mirada más de una vela desnuda de viento.

No hubo espacio para decir adelantamiento, habiendo conducido entre orilla y altamar, en la isla del amarraje, donde los sueños de ayer matan a garrote los sueños de mañana.

GOREA

Vivia o seu grito que era toda uma árvore: suas raízes se derramavam em torrentes, em chamados.

Foi amarrando a garganta do tempo na crueza das profundezas e sustentou com o olhar mais de uma vela desnuda de vento.

Não houve espaço para fazer ultrapassagens, tendo conduzido entre a costa e o alto mar, na ilha de atracação, onde os sonhos de ontem matam com um porrete os sonhos de amanhã.

Ilustração: Imaginário Puro.

 

Sunday, September 21, 2025

Uma poesia de Keisha-Gaye Anderson

 


WE DREAMED YOU

Keisha-Gaye Anderson

I see her face

when my lids surrender

to the limits

 

of this battered body

and it makes the cane ash sting

less in my throat.

 

She has fat brown cheeks

red satin ribbons

floating on fluffy plaits.

 

She hums, traaa-la-la-la-la,

so sweet

like a sugar in a plum.

 

She skips along a carpet

of flamboyant petals,

red like the rose apple she nibbles

on an already full belly.

 

Laughter like a bird song

no thick memory

whatsoever of who sent her

into this future

finally free.

NÓS SONHAMOS COM VOCÊ

Eu vejo seu rosto

quando minhas pálpebras se rendem

aos limites

 

deste corpo maltratado

e isso faz com que a cinza da cana arda

menos na minha garganta.

 

Ela tem bochechas gordas e morenas

fitas de cetim vermelho

flutuando em tranças fofas.

 

Ela cantarola, traaa-la-la-la-la,

tão doce

como açúcar em uma ameixa.

 

Ela salta por um tapete

de pétalas de flamboyant,

vermelhas como a maçã-rosa que ela mordisca

com a barriga já cheia.

 

Rindo como o canto de um pássaro

nenhuma lembrança profunda

de quem a enviou

para este futuro

finalmente livre.

Ilustração: Super Rádio Tupi.