Friday, September 13, 2024

De volta Li-Young Lee

 


BIG CLOCK

Li-Young Lee

When the big clock at the train station stoepped,
the leaves kept falling,
the trains kept running,
my mother’s hair kept growing longer and blacker,
and my father’s body kept filling up with time.

I can’t see the year on the station’s calendar.
We slept under the stopped hands of the clock
until morning, when a man entered carrying a ladder.
He climbed up to the clock’s face and opened it with a key.
No one but he knew what he saw.

Below him, the mortal faces went on passing
toward all compass points.
People went on crossing borders,
buying tickets in one time zone and setting foot in another.
Crossing thresholds: sleep to waking and back,
waiting room to moving train and back,
war zone to safe zone and back.

Crossing between gain and loss:
learning new words for the world and the things in it.
Forgetting old words for the heart and the things in it.
And collecting words in a different language
for those three primary colors:
staying, leaving, and returning.

And only the man at the top of the ladder
understood what he saw behind the face
which was neither smiling nor frowning.

And my father’s body went on filling up with death
until it reached the highest etched mark
of his eyes and spilled into mine.
And my mother’s hair goes on
never reaching the earth.

O GRANDE RELÓGIO

Quando o grande relógio da estação de trem parou,

as folhas continuaram caindo,

os trens continuaram funcionando,

o cabelo da minha mãe continuou crescendo mais e mais preto,

e o corpo do meu pai continuou se enchendo de tempo.

 

Não consigo ver o ano no calendário da estação.

Dormimos sob os ponteiros parados do relógio

até de manhã, quando um homem entrou carregando uma escada.

Ele subiu até o mostrador do relógio e o abriu com uma chave.

Ninguém além dele sabia o que ele viu.

 

Abaixo dele, os rostos mortais continuaram passando

em direção a todos os pontos cardeais.

As pessoas continuaram cruzando fronteiras,

comprando passagens em um fuso horário e pisando em outro.

Atravessando limites: do sono para a vigília e de volta,

sala de espera para o trem em movimento e de volta,

zona de guerra para zona segura e de volta.

 

Atravessando entre ganho e perda:

aprendendo novas palavras para o mundo e as coisas nele.

Esquecendo velhas palavras para o coração e as coisas nele.

E coletando palavras em uma língua diferente

para essas três cores primárias:

ficar, sair e retornar.

 

E somente o homem no topo da escada

entendeu o que viu por trás do rosto

que não estava nem sorrindo nem franzindo a testa.

 

E o corpo do meu pai continuou se enchendo de morte

até atingir a marca mais alta gravada

dos seus olhos e derramar nos meus.

E o cabelo da minha mãe continuou a crescer

nunca atingindo a terra.

Ilustração: Freepik.

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