Saturday, December 30, 2017

Um poema de Ramón López Velarde



HORMIGAS

Ramón López Velarde

A la cálida vida que transcurre canora
Con garbo de mujer sin letras ni antifaces,
A la invicta belleza que salva y que enamora,
Responde, en la embriaguez de la encantada hora,
Un encono de hormigas en mis venas voraces.

Fustigan el desmán el perenne hormigueo
el pozo del silencio y el enjambre del ruido,
la harina rebanada como doble trofeo
en los fértiles bustos, el Infierno en que creo,
el estertor final y el preludio del nido.

Mas luego mis hormigas me negarán su abrazo
y han de huir de mis pobres y trabajados dedos
cual se olvida en la arena un gélido bagazo;
y tu boca, que es cifra de eróticos denuedos,
tu boca, que es mi rúbrica, mi manjar y mi adorno,
tu boca, en que la lengua vibra asomada al mundo
como réproba llama saliéndose de un horno,
en una turbia fecha de cierzo gemebundo

en que ronde la luna porque robarte quiera,
ha de oler a sudario y a hierba machacada,
a droga y a responso, a pabilo y a cera.

Antes de que deserten mis hormigas, Amada,
déjalas caminar camino de tu boca
a que apuren los viáticos del sanguinario fruto
que desde sarracenos oasis me provoca.

Antes de que tus labios mueran, para mi luto,
dámelos en el crítico umbral del cementerio
como perfume y pan y tósigo y cauterio.

FORMIGAS

A cálida vida que passa melodiosa
Com a graça de uma mulher sem letras ou máscaras,
Para a beleza imbatível que salva e que enamora,
Parece, na embriaguez, de encantada hora,
Uma fúria de formigas nas veias vorazes.

Fustigam ou ultrajam o perene formigueiro
o poço do silêncio e o enxame do ruído,
a fatia de farinha como troféu duplo
nos férteis bustos, o inferno em que creio,
o estertor final e o prelúdio para o ninho.

Mas, logo, minhas formigas me negarão seu abraço
e hão de fugir dos meus trabalhados e pobres dedos
qual se esquece na areia um bagaço gelado;
e tua boca, que é uma figura de esforços eróticos,
tua boca, que é minha assinatura, meu manjar e meu adorno,
tua boca, em que a língua vibra, inclinada para o mundo
como uma reprovável chama  salientando-se de um forno,
numa turva data de um vento sombrio

onde a lua vagueia porque quero roubar-te,
há de cheirar a sudário e a erva machucada,
a droga, a réquiem, pavio e cera.

Antes que desertem, minhas formigas, amadas,
deixo-as caminhar até tua boca
para que apurem as necessidades do sanguinário fruto
que desde sarraceno oásis me provoca.

Antes que teus lábios morram, meu luto,
oferto-os, no limite crítico do cemitério,
como perfume e pão e veneno e cautério.


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