Wednesday, December 27, 2017

E, de volta, Eduardo Lizalde

BELLÍSSIMA                                                  

Eduardo Lizalde


Y si uno de esos ángeles
me estrechara de pronto sobre su corazón,
yo sucumbiría ahogado por su existencia
más poderosa

Rilke, de nuevo
  
Óigame usted, bellísima,
no soporto su amor.
Míreme, observe de qué modo
su amor daña y destruye.
Si fuera usted un poco menos bella,
si tuviera un defecto en algún sitio,
un dedo mutilado y evidente,
alguna cosa ríspida en la voz,
una pequeña cicatriz junto a esos labios
de fruta en movimiento,
una peca en el alma,
una mala pincelada imperceptible
en la sonrisa…
yo podría tolerarla.


BELÍSSIMA

E se um desses anjos
me estreitasse de pronto sobre seu coração,
eu sucumbiria afogado por sua existência
mais poderosa
Rilke, de novo.

Ouça-me você, belíssima,
não suporto o seu amor.
Olha-me, observe de que modo
seu amor faz mal e destrói.
Se você fosse um pouco menos bela,
se tivesse algum defeito em algum local,
um dedo mutilado e evidente,
alguma coisa ríspida na voz,
uma pequena cicatriz junto a esses lábios
de fruta em movimento,
um pecado na alma,
uma má pincelada imperceptível
no sorriso...
eu poderia tolerar. 

Ilustração: Imgrum. 

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