Tuesday, October 20, 2020

Edmond Jabés, outra vez

 


Chanson de l’étranger

 

Edmond Jabès

Je suis à la recherche d’un homme que je ne connais pas,

qui jamais ne fut tant moi-même

que depuis que je le cherche. A-t-il mes yeux, mes mains

et toutes ces pensées pareilles

aux épaves de ce temps?

Saison des mille naufrages,

la mer cesse d’être la mer,

devenue l’eau glacée des tombes.

Mais, plus loin, qui sait plus loin?

Une fillette chante à reculons et règne la nuit sur les arbres,

bergère au milieu des moutons.

Arrachez la soif au grain de sel

qu’aucune boisson ne désaltère.

Avec les pierres, un monde se ronge

d’être, comme moi, de nulle part.

 

CANÇÃO DO ESTRANGEIRO

Eu estou procurando um homem que não conheço,

que jamais foi como eu-mesmo

quanto depois que o procuro. Tem meus olhos, minhas mãos

e todos os pensamentos semelhantes

aos destroços do tempo?

Época dos mil naufrágios,

o mar cessa de ser mar,

tornando-se a água gelada dos túmulos.

Mas, mais tarde, quem sabe mais tarde?

Uma menina canta recuando e a noite reina sobre as árvores,

pastora em meio das ovelhas.

Arrancai ao grão de sal a sede

que bebida alguma há de alterar.

Com as pedras, um mundo se tortura

de ser, como eu, de parte alguma.

 

Ilustração: https://freetorrents.tech.

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