Sim.
Eu negarei tudo, se me perguntarem,
de
vez que te interessa negar o que aconteceu,
menos
o afeto que trago como um troféu
de
ter sido o teu mais efêmero amor,
erro
de uma única e breve vez.
Sei
bem que dirás que minto
(e
pode ser verdade),
por
minha memória ser fragmentada,
estilhaçada,
destruída
por
tanto amor que dei.
Reinaste
em mim,
como
uma rainha absoluta,
guia
da criança perdida
numa
misteriosa gruta
que
me atordoava
e
me convertia num amante sacerdote,
que
venerava sua deusa
com
beijos sobre o ventre,
com
carícias brutas e delicadas,
com
uma paixão desenfreada,
com os dedos em delírio
e uma sofreguidão incessante,
tocando
músicas inexistentes no teu corpo
que
tremia como se estivesse em agonia.
Em
agonia, nem sabia,
era
eu que estava.
Antes
de ti,
com
certeza, estava morto.
Pena
que, depois de ti, também.
Pode
dizer o que quiseres.
Eu
negarei, é claro,
porque
tu queres,
porém,
hás te lembrar
mesmo
tudo tendo sido
muito
rápido, célere, veloz,
da
saciedade e da plenitude,
que
permaneceu em nós,
como
me disse um dia,
apesar
de tanto tempo.
E
se a boca mente,
a
mente sempre sabe
distinguir
entre a mentira e a verdade.
Podes
negar tudo:
menos
aquele momento de felicidade!
Ilustração:
Wedfoto.net.
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