Ela me despediu
afirmando que gosta das
coisas simples.
Retruquei: -Mais simples
do que eu?
Ela sorriu, sem
constrangimento, e me disse quase
num murmúrio ou num
lamento:
-Sua simplicidade é muito
complicada.
Pensei que só podia ser
por trocar os dias
pelas madrugadas,
por não resistir ao som
de uma voz e de um violão
e, por que não admitir,
por gostar de fazer a
ronda dos bares.
Ainda tentei dizer:
-Meus hábitos são claros
e salutares.
Ela riu e admitiu:
- Você é tão simples que,
muitas vezes, me espanto
que não tenha nascido um
passarinho.
Completei com rapidez:
-E volto sempre para o
ninho.
E ela me dando as costas,
sem esperar resposta,
completou:
-Com tanta simplicidade,
de verdade,
para ser verdadeiramente
simples,
é preciso que o encontre
vazio.
Bateu, com estrondo, a
porta,
me dando um arrepio,
e, simplesmente,
para sempre me ignorou.
Ilustração: Pinterest.
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