LE
DON DE SOI-MÊME
Valery Larbaud
Je
m'offre à chacun comme sa récompense ;
Je
vous la donne même avant que vous l'ayez méritée.
Il
y a quelque chose en moi,
Au
fond de moi, au centre de moi,
Quelque
chose d'infiniment aride
Comme
le sommet des plus abruptes montagnes ;
Quelque
chose de comparable au point mort de la rétine,
Et
sans écho,
Et
qui pourtant voit et entend ;
Un
être ayant une vie propre, et qui, cependant,
Vit
toute ma vie, et écoute, impassible,
Tous
les bavardages de ma conscience.
Un
être fait de néant, si c'est possible,
Insensible
à mes souffrances physiques,
Qui
ne pleure pas quand je pleure,
Qui
ne rit pas quand je ris,
Qui
ne rougit pas quand je commets une action honteuse,
Et
qui ne gémit pas quand mon coeur est blessé ;
Qui
se tient immobile et ne donne pas de conseils,
Mais
semble dire éternellement :
"Je
suis là, indifférent à tout".
C'est
peut-être du vide comme est le vide,
Mais
si grand que le Bien et le Mal ensemble
Ne
le remplissent pas.
La
haine y meurt d'asphyxie,
Et
le plus grand amour n'y pénètre jamais.
Prenez
donc tout de moi: le sens de mes poèmes,
Non
ce qu'on lit, mais ce qui paraît au travers malgré moi:
Prenez,
prenez, vous n'avez rien.
Et
où que j'aille, dans l'univers entier,
Je rencontre toujours,
Hors
de moi comme en moi,
L'irremplissable
Vide,
L'inconquérable
Rien.
O DOM DE SI MESMO
Me
ofereço a cada um como sua recompensa;
Me
dou a cada um mesmo antes que haja merecido.
Há
algo em mim
No fundo de mim, no centro de mim
Qualquer coisa infinitamente árida
Como
o topo das montanhas mais abruptas;
Qualquer
coisa comparável ao ponto morto da retina,
E
sem eco,
E
que, portanto, vê e ouve;
Um
ser com vida própria e que, no entanto,
Vive
toda a minha vida, e ouve, impassível,
Todas
as conversas da minha consciência.
Um
ser feito do nada, se fosse possível,
Insensível
aos meus sofrimentos físicos,
Que
não chora quando choro?
Que
não ri quando rio,
Quem
não se envergonha quando cometo uma ação vergonhosa,
E
que não geme quando meu coração está machucado;
Que
se mantém imóvel e não me dá conselhos,
Mas
sempre diz eternamente:
"Estou
aqui, indiferente a tudo".
Pode
ser vazio como é o vazio,
Mas
tão grande que o bem e o mal juntos
Não
o preenche.
E
o ódio morre lá de asfixia,
E
o maior amor não penetra nunca.
Toma,
portanto, tudo de mim: o significado dos meus poemas,
Não
é o que se lê, mas o que se fala apesar de mim:
Toma,
Toma, não tens nada.
E
onde quer que eu vá, no universo inteiro,
Encontro
sempre
Fora
de mim, como em mim,
O
irrealizável vazio,
O inconquistável Nada.
Ilustração:
https://blogdosemeador.com/.
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