Saturday, August 01, 2020

Uma poesia de Valery Larbaud


LE DON DE SOI-MÊME

Valery Larbaud

Je m'offre à chacun comme sa récompense ;

Je vous la donne même avant que vous l'ayez méritée.

 

Il y a quelque chose en moi,

Au fond de moi, au centre de moi,

Quelque chose d'infiniment aride

Comme le sommet des plus abruptes montagnes ;

Quelque chose de comparable au point mort de la rétine,

 

Et sans écho,

Et qui pourtant voit et entend ;

Un être ayant une vie propre, et qui, cependant,

Vit toute ma vie, et écoute, impassible,

Tous les bavardages de ma conscience.

 

Un être fait de néant, si c'est possible,

Insensible à mes souffrances physiques,

Qui ne pleure pas quand je pleure,

Qui ne rit pas quand je ris,

Qui ne rougit pas quand je commets une action honteuse,

Et qui ne gémit pas quand mon coeur est blessé ;

Qui se tient immobile et ne donne pas de conseils,

Mais semble dire éternellement :

"Je suis là, indifférent à tout".

 

C'est peut-être du vide comme est le vide,

Mais si grand que le Bien et le Mal ensemble

Ne le remplissent pas.

La haine y meurt d'asphyxie,

Et le plus grand amour n'y pénètre jamais.

 

Prenez donc tout de moi: le sens de mes poèmes,

Non ce qu'on lit, mais ce qui paraît au travers malgré moi:

Prenez, prenez, vous n'avez rien.

Et où que j'aille, dans l'univers entier,

Je rencontre toujours,


Hors de moi comme en moi,

L'irremplissable Vide,

L'inconquérable Rien.

 

O DOM DE SI MESMO 

 

Me ofereço a cada um como sua recompensa;

Me dou a cada um mesmo antes que haja merecido.

 

Há algo em mim

No fundo de mim, no centro de mim

Qualquer coisa infinitamente árida

Como o topo das montanhas mais abruptas;

Qualquer coisa comparável ao ponto morto da retina,

 

E sem eco,

E que, portanto, vê e ouve;

Um ser com vida própria e que, no entanto,

Vive toda a minha vida, e ouve, impassível,

Todas as conversas da minha consciência.

 

Um ser feito do nada, se fosse possível,

Insensível aos meus sofrimentos físicos,

Que não chora quando choro?

Que não ri quando rio,

Quem não se envergonha quando cometo uma ação vergonhosa,

E que não geme quando meu coração está machucado;

Que se mantém imóvel e não me dá conselhos,

Mas sempre diz eternamente:

"Estou aqui, indiferente a tudo".

 

Pode ser vazio como é o vazio,

Mas tão grande que o bem e o mal juntos

Não o preenche.

E o ódio morre lá de asfixia,

E o maior amor não penetra nunca.

 

Toma, portanto, tudo de mim: o significado dos meus poemas,

Não é o que se lê, mas o que se fala apesar de mim:

Toma, Toma, não tens nada.

E onde quer que eu vá, no universo inteiro,

Encontro sempre

Fora de mim, como em mim,

O irrealizável vazio,

O inconquistável Nada.

Ilustração: https://blogdosemeador.com/.


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