Sunday, July 12, 2020

Mario Benedetti, pois...


LA CULPA ES DE UNO                                                 
Mario Benedetti

Quiza fue una hecatombe de esperanzas
un derrumbe de algun modo previsto
ah pero mi tristeza solo tuvo un sentido

todas mis intuiciones se asomaron
para verme sufrir
y por cierto me vieron

hasta aqui habia hecho y rehecho
mis trayectos contigo
hasta aqui habia apostado
a inventar la verdad
pero vos encontraste la manera
una manera tierna
y a la vez implacable
de desahuciar mi amor

con un solo pronostico lo quitaste
de los suburbios de tu vida posible
lo envolviste en nostalgias
lo cargaste por cuadras y cuadras
y despacito
sin que el aire nocturno lo advirtiera
ahi nomas lo dejaste
a solas con su suerte
que no es mucha

creo que tenes razon
la culpa es de uno cuando no enamora
y no de los pretextos
ni del tiempo

hace mucho muchisimo
que yo no me enfrentaba
como anoche al espejo
y fue implacable como vos
mas no fue tierno

ahora estoy solo
francamente
solo

siempre cuesta un poquito
empezar a sentirse desgraciado

antes de regresar
a mis lobregos cuarteles de invierno

con los ojos bien secos
por si acaso

miro como te vas adentrando en la niebla
y empiezo a recordarte.

A CULPA É DE UM

Talvez fosse uma hecatombe de esperanças
um derrame de alguma forma prevista
ah!, porém  minha tristeza só teve um sentido

todas as minhas intuições assomaram
para me ver sofrer
e por certo me viram

até aqui eu tinha feito e refeito
meus trajetos contigo
até aqui tinha apostado
em inventar a verdade
mas você encontrou o caminho
de maneira terna
e, ao mesmo tempo, implacável
de desalojar o meu amor

com um único prognóstico tu o retiraste
dos subúrbios da tua vida possível
o envolveste em nostalgia
o carregaste por quadras e quadras
e, lentamente.
sem aviso do ar noturno
o deixaste lá
sozinho com sua sorte,
que não é muita

Creio que tem razão
a culpa é de um quando não se apaixona
e não de pretextos
nem do tempo

Acho que fez muitíssimo bem
há muito, muito tempo atrás
que eu não me enfrentava
como ontem à noite no espelho
e ele foi tão implacável quanto tu
mas não foi terno

agora estou só
francamente

sempre custa um pouquinho
começar a se sentir infeliz

antes de voltar
para meus aposentos escuros de inverno

com os olhos secos
se por acaso

Olho como vás entrando na névoa
e começo a te recordar.

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